Nós da Cia Luzia Amélia, resolvemos aqui em nossa Teresina, subverter a idéia de comemoração em torno do dia da dança, propondo para a cidade questões específicas do nosso fazer artístico. Fizemos uma performance itinerante e simultânea em várias paradas de ônibus e dentro de um ônibus que nos levou para a universidade federal. Invadimos a universidade, invadimos a biblioteca, queríamos com essa atitude chamar atenção para questões sérias como a implantação urgente de um curso superior de dança em Teresina, a necessidade de se pensar políticas publicas efetivas para a dança e cutucar os outros profissionais para a necessidade dos artistas bailarinos, coreógrafos refletirem e não apenas se deixarem levar por uma atividade meramente braçal, servindo para a maquiagem de eventos. Não somos apenas cenários, nossa atividade pode e deve gerar conhecimento. A cada ponto de ônibus, um de nós entrava com figurinos improváveis. Ouvi um jovem falando que ia seguir até o final, mesmo saindo de seu caminho só para ver o que iria acontecer - um misto de alegria e ansiedade invadiu seus olhos. As pessoas dentro do ônibus, por sua vez, não sabiam o que fazer, ao mesmo tempo estavam, ainda que a contra gosto, participando ativamente da performance. Foi poético, emocionante, desconcertante. O motorista e o cobrador pareciam nossos companheiros de arte, nos olharam com uma cumplicidade, como se nos conhecessem, e dançaram também. Na biblioteca central da universidade, parada final de nossa jornada, nos sentimos como corpos vindos de outras realidades, corpos proponentes e não marionetes, vivos, sujeitos do nosso processo. As reações foram as mais diversas, teve gente que dançou, tirou foto, riu baixinho, riu alto, se encolheu, silenciou… já quase no finalzinho um estudante bradou: “Isso é uma palhaçada! Eles não deveriam estar aqui, aqui não é o lugar deles”. Uma professora angustiada respondeu no mesmo tom: ”Isso é arte!”. E nós continuávamos ali imersos naquela aventura de dança, sentindo, suando, nos fazendo espaço e querendo espaço, em uma atitude deslocada de se dançar aonde se busca saber. Terminamos mais fortes e conscientes de nossa realidade artística, bailarinos, sertanejos, piauienses. E no nosso corpo, a pergunta: onde é mesmo o nosso lugar?

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Comentario por Drika Monteiro el | em mayo 7, 2009 a las | às 10:49pm
Uma atitude plausível, inédita e desafiadora, pois o meio parece girar o contrário do mundo dos artistas, poucos nos recebem, mas muitos são tocados e foi isso que me fez ficar no ponto de ônibus, percorrer a avenida frei serafim e a nossa senhora de fátima com a minha dança, ela me move, ela me pertence, ela me faz mais forte.Parabéns aos bailarinos da Cia e a Luzia por mais uma ação brilhante e vimos que é necessário tanto para a sociedade, quanto para nós bailarinos, coisas do tipo nos completa.
Comentario por Antonia Luciana el | em mayo 7, 2009 a las | às 5:22pm
Gostei muito da idéia de comemorar esse dia um pouco diferente, foi compensador ver a reação das pessoas,saber que o sistema que organiza pode ser bagunçado com uma simples presença de um corpo até então estranho,sair do convencional foi maravilhoso...
parabéns Lú,pela brilhante idéia!
Comentario por jorge schutze el | em mayo 7, 2009 a las | às 4:19pm
um beijo e meus agradecimentos a todos voces.
Comentario por jorge schutze el | em mayo 7, 2009 a las | às 4:18pm
brilhante, simples e brilhante... O caos que mais acomete a dança, é não perceber e ousar os espaços e tempos prováveis de sua necessidade. Quando se realiza este encontro - atitude-espaço-tempo e sem medo nos entregamos a essa beleza, o momento se faz. E como voce mesmo coloca - terminamos mais fortes e conscientes...

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