Escritos sobre o espetáculo "Em quatro compartimentos" por Maurilene.

Cia. Balé Baião de Dança Contemporânea - Residências e Poéticas da contramão...

Depois de algum tempo longe dos escritos dançantes*1 surjo em meio ao Programa QUINTA COM DANÇA, com o espetáculo EM QUATRO COMPARTIMENTOS: Menino não dança, Cumplicidade na contramão, Amores difíceis e Submerso. Em cartaz neste mês de Maio de 2010 em Fortaleza-Ceará .

São quatro solos dançados por quatro homens. Os últimos espetáculos visto deste grupo em sua maioria o núcleo de bailarinos era numeroso, por isso a minha vontade de ir vê-los, assim em um de quatro. Trabalhar, dançar solilóquios de corpo é um risco engenhoso, e que eles se propuseram a experimentar. O maior risco: não sabe onde a cena acaba. Onde a imagem já basta. Onde o ator-bailarino é necessário.

Dessa vez quero antes falar de todos os objetos que se colocam em cena: par de tênis, bola murcha, sanfona, papel, cadeira, manto verde, flores de pláticos, roupa amarrada, máscara, tela de computador, fios, balde, toalha, cenoura, copo, água... Uma infinidade de simbologias, que nelas é um emaranhado de possíveis interpretações.

E a pergunta: O que dar a ver tudo isso?

Fiquei a espreita de buscar interligações entre os solos, a forma como um finalizava e iniciava o outro. Tem horas que eu quereria focar no corpo, na movimentação. Menino não dança inicia num foco de luz, que ele vem andando de costas e a luz torna-se outra. É construído algumas movimentações de direção até o ponto em que o menino dá de cara com a bola. Literalmente. A partir daí constrói-se aquela relação de que menino brinca de bola e menina de boneca; menino é cabra macho e menina é donzela... O homem atrás a tocar instrumento dar a cena algo de impossibilidade de mudança, como se o menino não pudesse reagir... Como se o seu espaço de vivência e educação o rejeitasse como bailarino. E venhamos e convenhamos, nossa sociedade é cheia de preconceitos maquiados. Nossa educação é voltada para os fins, sem meios. Algo acabado. Inacabado? Nem pensar, não é permitido para os homens capitais. Falaria, discorreria mais sobre a temática, é um assunto levantado e pertinente por aquele que dança. Não é nada que se fixe no corpo como algo inusitado, novo... Mas são interrogações que por ventura precisamos nos ater. Como educadores de dança, como artistas. E esta não é uma realidade só do Interior do Ceará, não. É da Capital, do Brasil e do Mundo.

Cumplicidade na contramão... O intérprete Gerson Moreno em um solo fez vários espetáculos. Dançou músicas cantadas ao vento, aquela melodias que sempre, um dia, se tornam, nossas lutas e desesperos individuais; dançou a busca pelo outro, do sensível, do aconchego, do tempo parar pra dar vazão ao sentir; do desequílibrio emocional humano por coisas não resolvivéis; Pela imcompreensão das línguas; Pelos movimentos políticos, pela militância, um ar de passividade tinha nele; O Homem Social de acordo e a favor do Estado. Uma multiplicidade de seres. Pelo ar de tudo e nada fica aqui uma sensação de nada defendido, ovacionado, de nada assumido, nenhuma bandeira, nenhuma coragem. Parecia ser levado pelo teor dos acontecimentos e nada mais. Não precisa de desesperos, uma vez se morre e ali mesmo se vive, nada modificado. A movimentação? Iniciava entregando frases de música:

Verso encantado, usei
Meu namorado é rei

Nas lendas do caminho
Onde andei.

Olha
se me
ao
lembrando
que
já por
que
amor
saber...

Depois entregava ao público, depois cantava, depois ia ao público, tocava, depois ia ao meio, ficava seminu e construia uma tira colada a calça e a blusa, despia vestia calça no lugar da blusa e vice-versa, e no final, sentava e se cobria em verde manto e embaixo contorcia-se até ele por no pico flores amarelas de plástico.

Amores difíceis, interprete Glaciel. Máscara. A imagem que guardei impressa em meu corpo. Um ser de rosto nas costas, anormalidades, aberração, estranheza.. . A sua frente tela de computador, relacionamentos virtuais. Em mim, o mais potente: a imagem da máscara. A imagem da máscara.

E por último, Submerso, o qual já tinha visto no Mova-se*2. Intrigante. De um balde, uma casa. As mesmas atitudes e gestos comuns de quem vive e se enquadra nessa pós-modernidade. Ler jornal, bebe água, suicida-se, come o que tem, no caso cenoura, faz escambo, moeda pra cá e pra lá, toma banho, toalha molhada, o sujo tirado por limpo, um dizer daqui...

Os quatros no mesmo espaço, parece uma historinha de pessoas reais ou não...
E a movimentação?

A inércia é o princípio do Movimento.

http://diversosmund osoumundosdivers os.blogspot. com/2010/ 05/cia.html

Maurileni Moreira, blogueira, profissional técnica em dança pelo IACC-SENAC-SECULT, estudante de Licenciatura em Teatro pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - IFCE e co-criadora da Cia. PONTO DANÇA.

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