AUTO RETRATO de Carolina Cony (análise por Paola Vásquez)

APRESENTAÇÃO

A obra feita por Carolina Cony Auto Retrato foi um trabalho de conclusão da disciplina Dança e Multimídia da Faculdade Angel Vianna realizado em 2007. Já foi exibido durante o Festival Internacional de Videodança – Dança em Foco, na II Mostra Internacional de Videodança de São Carlos, assim como, na Mostra Independente do Audiovisual Universitário. Em 2008 recebeu destaque do Premio Internacional de Videodanza, em Barcelona.

DESENVOLVIMENTO

O vídeo como o nome já diz, explora a ideia do autorretrato, ou seja, é uma obra que mostra como o artista se vê. Usando uma técnica de animação chamada stopmotion, revela um olhar voltado sobre si mesmo, reflexivo. Permite que o artista faça um exercício de descoberta e/ou aceitação de si mesmo já que este pode gostar ou não daquilo que vê ou tentar transformar a imagem que de si encontrou. Neste sentido, Cony usa como artifício para o auto retrato, uma câmera e um pequeno espelho que reflete pedaços de seu corpo numa perspectiva de revelação e ocultação; e de proximidade e de distanciamento. São diversos recortes na tentativa de revelar um 'eu' através das imagens fragmentadas, isto é, a autora exibe partes de seu corpo no intuito de apontar um reconhecimento de si mesma e a descoberta de sua identidade. Nesse momento é possível observar que ela vai de encontro com a ideia de que o autorretrato é feito através de imagens do rosto. Aqui ela mostra que a identidade dela está ligada ao corpo também.

Em relação a linguagem usada em Auto Retrato, um aspecto importante é o movimento do espelho. Nesse caso, o objeto desliza pelo quadro dando uma ideia de deslocamento não só da pessoa refletida como também da própria cena em si. Ao criar um videodança Andreia Bardawill afirma que:

o foco de interesse na construção de um pensamento sobre a relação corpo-imagem é a composição e o que gira em torno dela, em particular aspectos que possam contribuir para uma construção poética, sobretudo as relações possíveis entre a composição cênica e a composição da imagem. (BARDAWILL, 2007, p.131)

Assim, é possível afirmar que na construção do corpo-imagem de Auto Retrato não é somente o corpo e seus movimentos que formam a poética da obra. O deslocamento do espelho pela cena reforça algumas ideias e até mesmo gera outros sentidos e significações ao vídeo. É um movimento dentro do movimento. O espelho caminha pelo espaço da cena, se aproxima e se distancia ganhando a conotação de um olhar de fora sobre a artista. Um olhar do espectador sobre o corpo, sobre a identidade da autora estabelecendo uma relação de dialogo e interferência com esse autorretrato.

“A identidade é resultante da relação com o outro mediada pela sociedade” (HALL, 1997). Essa citação de Hall (apud MATOS, 2000, p. 76) ilustra a forma como a ideia de identidade é abordada na obra. Carolina Cony faz o autorretrato, com as percepções de si mesma, escolhendo o que quer externar entretanto a partir do momento em que esse olhar se constitui neste vídeodança passa a ter uma relação direta com o olhar do outro, ou seja, a identidade do sujeito é permeada também pela visão que o outro tem sobre ele. No caso de Auto Retrato, a concepção que Cony tem sobre si mesma sofre interferência do olhar de fora, do olhar do espectador.

Sobre identidade, Georges Vigarello afirma que é “a manifestação, pelo corpo, de uma interiorização ou de um pertencimento que designa o sujeito” (VIGARELLO, 2003, p.21). Essa ideia corrobora com a citação de Evgen Bavcar: “nos olhamos sempre com o olhar do outro mesmo que seja aquele do espelho” (apud BARDAWILL, 2007, P. 131). Neste sentido, o que Cony traz em seu trabalho é um olhar de descoberta e de transformação ao em observar e registrar cada movimento que faz.

É válido comentar ainda sobre a simplicidade dos recursos usados e a maneira como os elementos se organizam para compor a cena. Há um fundo verde, bem iluminado, no qual se centraliza o espelho portátil que, antagonicamente, reflete uma cena mais escura: uma inversão da luminosidade entre o objeto principal e o fundo. Já o efeito stopmotion dá uma dinâmica maior ao vídeo que, fazendo uma relação com a câmera, reforça a ideia de fugacidade e transitoriedade de cada instante registrado. Essa dinâmica também se relaciona bem com a trilha sonora encerrando um clima de tensão e estranhamento que chega ao auge no meio da obra.

FICHA CATALOGRÁFICA:

Videodança: Auto Retrato

Direção:Carolina Cony

Fotografia :Alice Ripoll e Carolina Cony

Edição:Samuel Rodrigues

Música: Excellent' Mr Renfield (Philip Glass)

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