Sobre memórias e obsessõesBruna Antonelli e Cuca Dias*
*Bruna Antonelli é coordenadora e gestora cultural do Acervo Mariposa e Cuca Dias é produtora executiva.
Escrito para a revista DCO (México) Danza, Cuerpo e Obsesión N°12 – Tradición
http://revistadco.blogspot.comSobre memórias e obsessõesBruna Antonelli e Cuca Dias
Por que um acervo em dança? O que um acervo em dança pode promover a respeito de informações?
A existência física de um acervo é o suficiente para manter vivo um material?
É possível transformar informações armazenadas em conhecimento?
Se já não podemos mais olhar para a memória como simplesmente um conjunto de gavetas onde são guardadas informações, acumulando o conhecimento, algo nos diz que um acervo em dança também não pode ser só isso. Optamos então, por ao invés de acúmulo, uma rede de conexão; ao invés de informações somadas, contato umas com as outras, ganhando novas possibilidades de existência. Fazer da história um objeto presente. Construir um patrimônio coletivo e compartilhado. Desejos que perseguimos obsessivamente.
Este artigo divide com o leitor alguns desses desejos e obsessões (influenciado pelo nome da revista, confessamos), a respeito da experiência e das idéias que estamos construindo e que acreditamos para um acervo em dança.
O Acervo Mariposa é uma videoteca especializada em dança, sem finalidade lucrativa, que gerencia o acesso gratuito de vídeos digitalizados de dança para o público em geral, localizado na cidade de São Paulo, Brasil.
Para o Acervo, a proposta de reunir, arquivar, armazenar vídeos de dança (registro de espetáculo, videodança, documentários, etc), não prevê que o trabalho de um artista fique “engessado” na parede a espera que algum dia, em algum momento, alguém resolva assistir o seu trabalho.
Partindo da premissa de que dança é produção de conhecimento e que um vídeo de dança pode gerar conhecimento, uma pergunta nos perseguia: como possibilitar o acesso a vídeos de dança para um maior número de pessoas e permitir que o mesmo chegue a muitos lugares?
A resposta que tivemos foi: Copyleft.
Decidimos então, disponibilizar nosso material dentro da licença Creative Commons, que é uma ferramenta internacional de licenciamento de direitos autorais, onde o próprio autor decide como sua obra pode ser utilizada por terceiros e escolhe quais licenças melhor se adaptam ao seu trabalho, sendo que em todas elas, a propriedade intelectual do autor (autoria) é sempre preservada.
“Ao invés de todos os direitos reservados, alguns direitos reservados”
Sendo assim, um vídeo dentro do Acervo Mariposa, uma vez doado pelo artista e assinado o termo de autorização (Copyleft), encontra em nossas atividades educativas uma forma de circulação e difusão que dinamiza o uso e acesso à videoteca. Ele pode, portanto, ser doado para outros acervos (Parcerias), exibido em Mostras (V.H.S.), fazer parte de festivais (Mariposa nos Festivais) e adentrar as Universidades (Sobredança).
Alguns desejos saciados.
E o que isso diz da memória e futuro da dança? Imersas nesse ambiente e depois de muitas conversas com a equipe que representa o Creative Commons aqui no Brasil, outras reflexões e conseqüentemente outros desejos vieram. Esse pessoal têm nos provocado dizendo que o único modo de tentar tornar a dança um pouco menos elitista e fazer com que ela saia do seu palácio de cristal, é a difusão, e que os vídeos são uma ótima ferramenta para isso.
Um vídeo, de maneira nenhuma, substitui a dança no corpo, o artista ou o acontecimento cênico, a exemplo de bandas que disponibilizam suas músicas na internet e ainda assim seus shows têm casa lotada.
Hoje, novas maneiras de registrar a dança nos mostram novas maneiras de olhar para a dança. O videodança está aí para provar isso! A tecnologia influencia a maneira de ver e fazer dança: muitos coreógrafos a utilizam como registro, como vídeocenografia; quem hoje não tem uma câmera em casa? Para um acervo, a internet pode, inclusive, permitir concatenar informações, estabelecer novas relações. Tais possibilidades tecnológicas sinalizam outra maneira de gerir um acervo em dança e, portanto, outro modo de dinamizar a memória. Tecnologia não está só a serviço da memória da dança, mas sim pode torná-la mais presente. Se nosso objetivo é tornar a dança mais acessível e assistida por um maior número de pessoas, por que não usar e aperfeiçoar um acervo para este fim.
Por exemplo: assisto a um vídeo de dança na internet, juntamente com o vídeo está disponibilizada também sua ficha técnica; descubro o nome do coreógrafo, este nome possui um link para outros trabalhos que ele tenha realizado; que por sua vez me leva para navegar em uma dissertação sobre o trabalho dessa Cia, que possui outro link que me leva ao termo “dança contemporânea” no Wikipédia; para finalizar participo deixando minhas impressões no blog.
Esta é a mais atual obsessão do Acervo Mariposa.
Iluminar o conhecimento em dança é torná-lo acessível; isso é fácil de concordar. Mas, como fazer isso é um desafio que move um projeto como esse. Nosso desejo é que outros projetos com o mesmo movimento tornem-se parceiros, pois memória não se constrói com um corpo só.
Para conhecer mais:
www.acervomariposa.com.brwww.creativecommons.org.br Copyleft em dança: possibilidades de difusão e Dança e Copyleft no palácio de cristal por Nirvana Marinho em:
www.culturaemercado.com.br Referências bibliográficas:
GREINER, Christine. O registro da dança como pensamento que dança. D´Art, São Paulo, v. 04, p. 38-43, 2002.
_________. O corpo – pistas para estudos indisciplinares. Annablume,2005.
KATZ, Helena. Um, dois, três. A dança é o pensamento do corpo. Fid editorial,2005.
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