DEZ FIGURAÇÕES: ESTUDO DO CORPO NA DANÇA DO GUERREIRO ALAGOANO

DEZ FIGURAÇÕES ENTREMEIOS E MULTIRREFERENCIALIDADE

"Hão de ver meu corpo atual, voar em pedaços e se juntar sob dez mil aspectos diversos. Um novo corpo no qual nunca mais poderão esquecer."(Antonin Artaud)

"Não basta articular um gesto emprestado da dança indiana ou da dança barroca (...) inclui uma filosofia de corpo, um trabalho sobre tônus corporal, e todo dispositivo qualitativo do dançarino, tudo que o constitui em sua relação com o mundo. Que deveria, na verdade ser objetos de mutações e de misturas. "(Laurence Louppe)

"Na esfera do além ... nem um novo horizonte, nem um abandono do passado...encontramo-nos no momento de trânsito em que espaço e tempo se cruzam para produzir figuras complexas de diferença e identidade, passado e presente, interior e exterior, inclusão e exclusão." (Homi Bhabha)

"O novo não está no que é dito, mas no acontecimento da sua volta." (Michel Foucault)

"A mídia à qual o corpomídia se refere diz respeito ao processo evolutivo de selecionar informações que vão constituindo o corpo. A informação se transmite em processo de contaminação." (Helena Katz & Cristine Greiner)

APRESENTAÇÃO

O projeto Dez Figurações: trata-se de pesquisa para solo coreográfico em dança cênica contemporânea e propõe a encenação de dez curtas representações dramáticas (Entremeios ou Figuras) que gradativamente têm deixado de ser encenados e encontram-se praticamente desaparecidas no repertório da dança tradicional do Guerreiro Alagoano: a Borboleta, O Zabelê, A Sereia, O Fúria, O louco, O mata mosquito, O sapo, O Messias, A Juana Baia e o Jaraguá. Essas figuras são dramatizadas e construídas de uma maneira específica por seu intérprete dentro da brincadeira que parte de seu referencial de corpo para realizar o entremeio. Propõe-se a construção da coreografia por meio do material da pesquisa que tem sido realizada nos últimos oito anos sobre o Guerreiro e abarcam acervo bibliográfico, trabalhos de campo , laboratórios de corpo e vivências em práticas corporais em dança contemporânea. Esta composição tem por base o pensamento que aspectos processuais e formais do Guerreiro sejam articulados na composição do intérprete criador em dança contemporânea a partir de um olhar articulado pela Multirreferencialidade
A pesquisa de movimento catalisa para o processo de encenação proposto pelo viés da Multirreferencialidade teorias contemporâneas das artes do corpo, entre elas , a teoria do Corpomídia (Greiner & Katz) e assim tecer dez curtas danças ou encenações que se articulam e são possíveis de ser realizadas individualmente, por combinações e sem uma seqüência lógica necessária. O Título: Dez Figurações é usado no sentido ambivalente, desfigurar é ao mesmo tempo desconstruir e fazer outro texto. O entremeio é uma desconfiguração na dança do Guerreiro, porque é uma figuração (não é uma parte fixa e depende dos referenciais de aproximação dramáticos do mestre e do brincante para ser encenados/construídos.
A proposta Dez Figurações é inédita e, também, não se trata de trabalho voltado para estudo em danças populares, mas sim de pesquisa em dança contemporânea a partir de referenciais de dança tradicional. Visa a ampliação dos instrumentais téoricos, bem como seus articuladores e dados relevantes para este estudo como: Favorecimento da discussão sobre Estudos Culturais (Hall, Babha), mestiçagem e hibridismo na dança.(Louppe) Teoria do Corpo Mídia (Greinner/Katz), Performatividade (Jussara Setenta). Esse projeto contribui para o pensamento investigativo da dança quando propõe a reunião de elementos, onde o autor por meio de diferentes figuras e suas composições vão experimentar por contágio as metáforas de corpo e pensamentos que a construção da coreografia permite. As figuras possuem uma tendência a gerar movimentos orgânicos, valorizar a polirritmia, o espaço interno do corpo, a tridimencionalidade relacionada ao espaço externo por negociações entre as informações do espaço e a corporeidade do dançarino e a busca de uma dramaturgia do corpo. Experimentar dinâmicas por meio do sapateado, compor a partir de percepções do tônus corporal; utilizar deslocamentos por meio do arrastar, da fluência do movimento, do deslizar, o torcer, o esvoaçar, o pressionar e o utilizar micromovimentos nos procedimentos de composição cênica. Trata-se, portanto, de um encontro entre pensamentos de corpos e como esses pensamentos modificam um ao outro, produzindo um resultado híbrido. Definir o processo de criação como mestiço significa caracterizá-lo como possuidor de elementos que, imbricados, formam um novo texto, resultado do imbricamento de outros textos.
Nas dez (des) figurações em processo, cinco figuras estão esboçadas: Borboleta, Zabelê, Sereia, Fúria e o louco em quatro curtas danças( Borboleta/ZabeLê, a Sereia, o Fúria e o Louco registradas em DVD após única apresentação no painel performático da escola de dança da UFBA em 2008/2009. O mata mosquito, o Sapo, O Messias, a Juana Baia e O Jaraguá serão as próximas figuras a serem pesquisadas/criadas e estão em processo de construção. As figuras escolhidas são simples e, às vezes, truanescas, de desenho quase “óbvio”, mas que por meio de sua narrativa e pensada pelo viés da Multirreferencialidade permite articular diferentes teorias contemporâneas do corpo e dança contemporânea através de novas construção/dramatização do assunto. As figuras são usadas também como procedimento de criação por imagens, a intenção ao selecionar as figuras é experimentar uma passagem, um deslizar entre corporeidades aparentemente incompatíveis.

DAS IDEIAS E DO REFERENCIAR

"Pensar o complexo é pensar de forma multirreferencial” (Borba)

Deparei-me com a abordagem Multirrefrencial sendo orientado pelo professor da Universidade Federal de Alagoas Dr.º Sérgio da Costa Borba, primeiro autor difusor do pensamento Multirreferencial no Brasil, para a escrita de minha monografia em Arte Educação intitulada: Dança Educativa: Uma abordagem Etnometodológica e Multirreferencial.
No Departamento de Educação da Universidade de Paris VIII, França, há um grupo de pesquisadores, que há três décadas pesquisa a avaliação qualitativa, o pensamento qualitativo, e, portanto, a Multirreferencialidade na formação e na pesquisa. Alguns deles são Jacques Ardoino, Guy Berger, Renê Barbier, Renê Lourau, Georges Lapassade, Alain Coulon, Michel Lobrot, Antoine Savoie, Patrick Boumand.
A multirreferencialidade é uma epistemologia contra o reducionismo da crítica e da criação científica. Surge na década de 60 com Jacques Ardoino e Lourau que defende o jornal de pesquisa (diário de bordo) como instrumento necessário ao pesquisador, possibilitando assim uma leitura plural do objeto investigado e por meio de diversos ângulos propõe uma quebra de fronteiras disciplinares, a partir de instrumentos teóricos, econômicos, sociológicos, antropológicos, filosóficos e defende conceitos como: Autorização, bricolagem, jornal de pesquisa, subjetividade, complexidade, hipercomplexidade.Autorização é um conceito multirreferencial que designa as competências do homem para gerir-se, responsável por si, criador de seu próprio caminho, capacidade de tornar-se autor.“O ato de autorizarmo-nos, no quotidiano nosso, requer decisões de fazermos ou não esta ou aquela coisa. Ao fazermos algo, autorizamo-nos. Esse autorizar-se, podemos ser sujeitos ou objetos. Sujeitos quando compreendemos as implicações múltiplas dos nossos atos, objetos quando a compreensão dessas implicações escapam-nos”.( Borba, 1977:81). A bricolagem Outro conceito multirreferencial, tem por objetivo a junção de elementos que favorecem a constituição de um corpo, de um todo que se organiza através de fragmentos; A ciência, para aqueles que optam pela pesquisa numa abordagem multirreferencial, não escapa da bricolagem como elemento essencial na junção de idéias, de teorias e intenções que se complementam e por si só, constituem-se como multirreferencialidade. “No dicionário francês “Litré”, “bricole”, significa entre outros sentidos, a utilização de meios imprevistos, não usuais, desviados, agir de forma imprevista, ir por caminhos oblíquos; colar; bricolar; juntar... ” Borba ( 1997:148). Encontramos em (Lapassade apud Barbosa, 1998:126), que:
(...) a noção de “bricolagem” poderia servir para designar uma dimensão habitualmente oculta, mas essencial, do trabalho de campo, ao mesmo tempo em que, ainda no meu julgamento, a “bricolagem” metodológica e também conceitual é permanente (...) funciona com a mesma intensidade nos empréstimos que se faz a diversas escolas e teorias para fazê-las convergir para um mesmo objeto de pesquisa e, desta maneira, esclarecê-lo através de múltiplas perspectivas.

Na formação, no caminhar, no fazer estético e artístico do artista enquanto intérprete que se propõe a uma encenação investigativa, a autorização se institui enquanto, trocas de idéias, de experiências, ora aceitas, ora negadas, ora levada em consideração que o principio está em construir, buscar soluções, com a sua instintiva comunhão com o estado de potência, com seu querer fazer, pois o querer fazer está no autorizar-se. As ligações estruturais da criação cênica insere e contextualiza a função multirreferencial da dança enquanto forma de pensamento estético, visando desta forma dar corpo ao objeto de pesquisa em dança enquanto arte do “bricoleur”. Essa inter-relação introduz o sujeito na multirreferencialidade por meio da bricolagem enquanto ator/autor da experiência de criação estética. No fazer dança conceituo a multirreferencialidade como um paradigma que busca explicações no fazer ciência e artes, apropriando-se de fontes referenciais, descobrindo implicações, complexidades e exercendo a bricolagem enquanto junção de idéias e experiências em seu aspecto dinâmico, experimental e conceitual, “reivindicando deste fato varias óticas para leitura de dados, no prolongamento de seu trabalho sobre o conhecimento comum” Ardoino (1998). Falar de Multirreferencialidade (Ardoino, 1998) e dança faz-se necessário aprofundar o estudo dos elementos do fazer artístico nele existente, a sonoplastia, a iluminação, o figurino, a personagem , o texto, o contexto e suas ligações intrínsecas.

O ESTUDO DO CORPO NA DANÇA DO GUERREIRO ALAGOANO

O estudo do corpo na dança do Guerreiro Alagoano aplica uma metodologia de pesquisa denominada “Epistemologia do Corpo Brincante” (Domenici, 2004) que estuda os processos de significação que ocorrem no ambiente da dança para entender como o movimento se organiza no corpo dos brincantes.
Os objetivos da pesquisa foram:
1) Fazer um estudo preliminar da dança do Guerreiro com ênfase no corpo dos brincantes.
2) Reunir material e desenvolver laboratórios para uma futura criação coreográfica.
Para isto foram realizadas pesquisas de campo, incluindo 08 (oito) visitas ao grupo de brincantes do Guerreiro do Mestre Venâncio, no bairro do Tabuleiro dos Martins no município de Maceió, AL e aplicação de 02 entrevistas. Concomitantemente com a pesquisa de campo foram realizados laboratórios com o objetivo de vivenciar as dinâmicas corporais identificadas na dança para uma futura criação coreográfica.

Primeiro Momento: Levantamento bibliográfico

O Guerreiro surge por volta de 1927 ou 1929 com o cruzamento de várias brincadeiras, destacando-se dois importantes contribuidores que são: os Reisados e os Caboclinhos.Na mistura entre os folguedos, inverteram-se os papéis dos figurantes dos caboclinhos e admitiram-se outros dos Pastoris, o que criou uma composição nova. O episódio da guerra origina-se do Auto dos Congos, aparecendo figuras, partes ou cenas alegóricas de outras brincadeiras como o Pastoril e o Bumba meu Boi.
O drama é estruturado semelhante aos Reisados, diferindo pela quantidade de figurantes, pela riqueza nas vestimentas e nas músicas.Os figurantes dos Guerreiros são: Rei, Secretário de Sala ou Mestre, Embaixadores, Contra-guias, Contra-passos, Vassalos dos Guerreiros, General, índio Peri, Vassalos de Peri, Rainha, Lira, Estrela de Ouro, Estrela Brilhante, Sereia, Borboleta, Zabelê, Meia-Lua, Estrela do Norte, Caboclinho da Lira, Mateus, Boi.
As danças cantadas são chamadas de Peças, as partes declamadas são chamadas de Embaixadas ou Chamadas de Reis e as curtas representações dramáticas são denominadas de entremeios. As partes ou episódios narram a luta entre duas nações que disputam para tomar a terra um do outro. Esta luta substitui a guerra dos Reisados, significando metaforicamente a luta entre a vida e a morte. As representações dramáticas denominadas “Entremeios” na Dança do Guerreiro adquirem expressão própria devido a maneira como alguns brincantes (solistas) corporificam os personagens, condição particular que diz respeito ao nível de informação corporal do brincante que atua como um intérprete criador.

Segundo Momento: A pesquisa de Campo

O mestre Manoel Venâncio possui o seu Guerreiro Mensageiro Padre Cícero há 32 anos na capital. No município de Cajueiro onde nasceu, com o pai que era cantador de Pagode, aprendeu então a tocar viola, da viola passou para o pandeiro, integrou-se a um grupo de Reisado e aprendeu o Côco de roda. Na década de 40 veio morar em Maceió, tornando-se um grande mestre do Côco Alagoano. Diz com orgulho que: "quando morrer deixará a cultura de Alagoas plantada", porque seus filhos participam da brincadeira do Guerreiro que montou em 1974; o filho mais velho toca o zabumba, o filho que possui 10 anos é o Mateus, e a mais nova com 06 anos é figurante.
O espaço de ensaio é uma palhoça no tamanho de 10x5 metros, com telhado enfeitado por bandeirolas azuis, vermelhas e amarelas. Mestre Venâncio fala como foi feito o piso por ele, orgulhando-se de o mesmo não ter sido destruído, quebrado pelos sapateados, ou a chuva ou o vento.
Segundo o mestre Manoel Venâncio, a brincadeira sempre começa com a abertura do divino, dedicando este momento para o agradecimento e preparação do corpo pela vivência da brincadeira que irá se iniciar.
Terceiro Momento: laboratórios
O terceiro momento foi estudar as dinâmicas corporais e metáforas encontradas na Dança do Guerreiro para reunir material de estudo para uma composição coreográfica. Na dança do Guerreiro a sua movimentação se organiza em sapateados, onde cada brincante incorpora seu modo de dançar. O jogo dramático acontece por deslocamentos no espaço com formação de filas , onde os movimentos são de pequenos deslocamentos para o lado e para o outro
O estudo das metáforas e dinâmicas corporais é um método que permite perscrutar o pensamento de corpo, como o movimento se organiza enquanto padrões tônicos no corpo, em relação com os processos de significação.
Neste estudo foi identificado as seguintes metáforas e dinâmicas corporais. “A marcha,” “ O boa noite”, ”O abri-te divino”, “Olhar para o céu”, “ O passeio” , “ Que frio ai que calor” , “ A despedida” . Estas dinâmicas foram criadas na observação dos passos de dança associados às músicas e a seus movimentos correspondentes. Por exemplo. “A marcha” equivale ao deslocamento dos brincantes pelo espaço “arrastando” os pés no chão, o que pode estar relacionado com a tradicional Folia de Reis, quando os brincantes vão de porta em porta para avisar o nascimento de Jesus. O “boa noite” é um pequeno balançar de um lado para o outro, permanecendo no lugar, cumprimentando a platéia.

CONCLUSÕES
Esta pesquisa possibilitou a produção de um estudo sistematizado sobre a Dança do Guerreiro, conseguindo reunir dados e realizar uma investigação a respeito da técnica e da poética do corpo nessa dança.Temos por pressuposto que esse movimento envolve novamente procedimentos de mestiçagem, agora em outro nível: entre as informações observadas no folguedo e as informações do pesquisador-criador, considerando que, foram encontrados novos padrões de movimento que agora vão “negociar” com aqueles que eu já possuía no meu corpo, nos laboratórios de experimentação. Temos por pressuposto que a busca da mestiçagem no processo criativo não são misturas superficiais, como uma bricolagem de gestos e movimentos. Laurence Louppe ao definir como ocorre a mestiçagem na dança e como pode o dançarino fazer valer-se melhor destas misturas no cenário contemporâneo em dança, afirma que: “Não basta articular um gesto emprestado da dança indiana ou da dança barroca (..) mas inclui uma filosofia do corpo, um trabalho sobre tônus corporal, e todo dispositivo qualitativo do bailarino, tudo o que o constitui em sua relação com o mundo que deveria, na verdade, ser objeto de mutações e de misturas” (Louppe, 2001 p.29). Trata-se, portanto, de um encontro entre pensamentos de corpo e como esses pensamentos modificam um ao outro, produzindo um resultado híbrido. Definir a brincadeira como mestiça significa caracteriza-la como possuidora de elementos que, imbricados, formam um novo texto, resultado do imbricamento de outros textos.
Também destacamos a importância dos entremeios como momento de atuação singular de um brincante, este se destaca e tem uma performance diferenciada, ocasionada principalmente pelo fato de que a dança do seu personagem não é ensinado pelo mestre, é o brincante que constrói a partir de seu referencial de corpo.
As músicas e os personagens possuem força imagética, por sua vez são personagens burlescos com grande força de conteúdo cênico.
A brincadeira como fator de cruzamentos, tanto de idéias e significados como no encontro de pessoas de diferentes idades, se estrutura como encontro de pessoas num espaço específico de formação que não é o espaço escolar e cuja construção dá por meio das trocas de informações aparentemente simples, mas que são complexas, devido as informações que são trazidas no bojo da brincadeira.
Neste trabalho, a interligação da pesquisa de campo com os laboratórios corporais de estudo e criação possibilitaram vivenciar e refletir criticamente sobre o enriquecimento dos processos de criação, por meio do estudo de uma dança que se desenvolve fora do ambiente acadêmico que utiliza outros meios de transmissão de conhecimento.

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