Fico a pensar se não é disso que estamos tratando em nosso trabalho. Claro que além das inúmeras interfaces, que na conversa com Maurício Pereira, o músico, foi possível identificar, ou seja, é possível falar desta nossa pesquisa por vários recortes e interagi-los de maneira a criar um grande complexo de pensamentos e reflexões. Mas ao escrever, deslocamentos, abro um grande guarda-chuva do óbvio, visto termos escolhido um nome que também é isso, Lá e Cá. Este nome é em si um deslocamento, e o “e” detém uma força enorme da essência aqui até agora circulada. O estado de estar lá ou cá parece não ter tanta força como o fato de estarmos no “e” que é o próprio deslocamento. Iran desenhou isso, usando o “e” como signo de eletrônico e de ligação do lá e cá, e no instante em que vi gostei, compreendi e agora este sinal aparece com mais força. E ao ler e ouvir muitos comentários de nossa pesquisa chegados de tantos lugares e também nestes breves momentos de viagem foi possível sentir e presenciar de forma mais intensa este ícone incubado no pensamento. O instinto abissal criado pelo processo artístico coloca-nos em um quase medo de não saber, um voar no nada, sem chão e perdidos, mas é nele que criamos. A instabilidade e o desconforto são partes deste processo que nos faz desejar criar um ponto, um chão de trabalho. Aqui o movimento em falso que estamos colocados se faz necessário, é preciso ir, a queda é inevitável. Parece que ao estarmos utilizando ferramentas sócio digitais na produção em arte deparamos com uma necessidade e uma carência de uma aproximação táctil. Pois, tudo que esta tecnologia propicia ainda nos deixa carentes de aproximação, da necessidade do contato de entender por outras formas o que aquele outro ta dizendo. E neste momento vem a pergunta, como nasce o impulso de produzir um software? Sim, são coisas diferentes e nem estou criando uma expectativa de conduzir este texto a pensamento de colocar software como um processo artístico, mas de possibilitar um dialogo e que talvez, somente talvez exista entre eles coisas muito em comum durante o processo. Parece-me que a existência de um programa precede um vazio e ele é tão subjetivo e imaterial quando o processo vivido em arte. Usamos o meio, entramos neste espaço, cruzamos uma série de interfaces e barreiras dentro da possibilidade física digital e táctil que a colocamos em nosso corpo criando um processo de apropriação e nos descobrimos nem tão tácteis e nem tão digitais, usuários e não dependentes, mas instauramos um precedente de processos no qual o deslocamento se fez em dança o elemento de ligação.

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