O dia é de expectativa e tensão. O primeiro a chegar no espaço, ainda por volta de meio dia foi o Jau (Jailton Oliveira). Assim que ele me liga, percebo o tom de ansiedade e nervosismo, querendo dar conta de certos detalhes e de saber a que horas o grupo se encontraria, já que ele tinha perdido o encontro anterior. Encontramo-nos mais tarde às 14 horas e pudemos resolver com calma. O meu nervosismo chega ao ápice, por volta das 16 horas. O Jau, o Denis e eu já havíamos feito e refeito tudo o que podíamos, e até ali as meninas não davam sinal algum. É muito curioso perceber o quanto necessitamos do outro nessa hora, para nada, para saber que ele está ali, dividindo sensações. Por isso se torna irrelevante qualquer cobrança, ao mesmo tempo que inevitável: porque amamos. Procuro não aumentar o nível de nervosismo e evito conflitos, nessa hora eu adoro falar com a Mary, fumando um de seus Carltons: eu já tinha conflitos demais comigo mesmo. Organizamos as coisas nos pesamos e avaliamos nossas massas, descontraindo nas graças e no charme da Charlene, e na sempre prestativa presença do Jau. Rimos e tomamos coca-cola com guloseimas que a Renata trouxe pra gente. As primeiras pessoas a chegar, o Udson e a Beny, ficam lá fora conversando com a Mary. Aos poucos um grupo bem falante vai se juntando ao público (eu não sei o que fazer com meus nervosismos, mas a Fernanda Montenegro também é assim: que alívio!) E andam pela casa, conhecem os espaços, conversam entre si e com os performes... A Mary já está linda e fumada para fazer suas vezes de Mestra de Cerimônia. Com um atraso de meia hora a última a chegar é a Gal (Glaucia Machado), sempre atenta ao que rola nas artes, e sempre de cabeça e cabeleira prontíssima. A cerimônia começa. É a vez de Falsa Magrela dizer, no silêncio embalado pelos ventiladores e o murmúrio que vem de fora. Em aproximadamente 20 minutos Charlene dá o seu recado. Não foi o seu melhor momento. O público intimidou um pouco sua performance, já nos divertimos de rolar com as mungangas dessa doida. Mas de qualquer forma o recado foi dado a contento. Mais tarde nas conversas, a Mana (Nadja Rocha) vai cobrar exatamente o que a gente sentiu em outros ensaios: um tom cômico, ridículo, ou bufão como lembrou o Atton Macário. Sem dúvida o público presente se identifica com o trabalho, a Bárbara disse isso depois das conversas, já lá fora: todo mundo passa por um momento de incerteza com a imagem pessoal. E a discussão sobre Falsa Magrela foi bastante fervida, com a Gláucia discordando da Mana quase sempre, e cada um colocando em cheque as questões que a performance levanta. Depois da Charlene eu me apresentei: Caio: procedimento de rotina. É difícil aqui fazer uma apreciação desse momento, eu prefiro ficar com a impressão que o público me passou: foi o Atton que insistiu que se falasse sobre o Caio, num gesto bem enfático e insistente. Ele, frisando que se tratava de uma pesquisa dentro da subjetividade do performer, sentiu que o primeiro momento, quando eu falo uma série de palavrões enquanto tiro e visto a roupa até ficar complemente nu, denunciava a dúvida e a angústia adolescente diante da constatação da homossexualidade. Agora, comer cueca, mermão!!?
Entre outras coisas a Isabelle (Pita) lembrou o choque que esse momento transmite ao público, e o alívio catártico que ele provoca. A Vivi (Viviane de que, amiga?)se sentiu até mais inteligente, por poder construir uma ficção inteligível da seqüência de ações que eu desencadeei. O Udson Pinheiro achou que não se trata simplesmente das questões em torno da homossexualidade, mas da sexualidade de um modo mais amplo, é claro que o posicionamento passivo é enfatizado nessa necessidade de absorver o outro. A Mana achou inteligente as escolhas das ações e vê nisso uma coerência com o próprio Caio Fernando Abreu. A Beny (qual é o seu nome, amiga?)que já tinha falado do peso que as ações das performances apresentadas até ali, lembrou que nada precisa ser leve, ou alegre, ou cômico. Intervalo: agora sim, consigo até respirar. To calmo. O Tiago teve que sair, mas prometeu uma apreciação. É a vez de Urucungo: Denis. A Gláucia, que curtiu muito a cena, recomenda um investimento na ação improvisada. A Beny lembrou que os significados propostos pelos objetos precisam gerar uma melodia de ações, uma partitura que quebre com a monotonia da performance. A Mana concorda com essa afirmação e insiste que mesmo improvisada a ação precisa de segurança, de desenho claro. Depois do Denis, o Jau inicia sua Memórias (ou lembranças?) da Pele. Recebida com certo deleite pelo público, que viu no tom poético e simples do trabalho um alívio às primeiras seções. O corpo grande e o pequeno feixe de luz, a luz que ao mesmo tempo revela e esconde as marcas da pele, a existência real desse dado: a pele realmente guarda memórias do corpo. A Isabelle que é também (não sabia?) massoterapeuta, lembrou que a pele é o cérebro exposto, nela se acumulam sensações, lembranças e traumas que a massagem pode reverter. Tem muita coisa que o meu cérebro, nos seus limites de pele antiga, já não pode mais lembrar, e se faltou algo, por favor me avise. Graças a Deus tem um vídeo gravado com todas as colocações da platéia, que vou rever mais tarde. Obrigado minha mãe Tecnologia Acessível! Arayeie Tic Click powk zim!!! Mas obrigado mesmo a todos vocês que participaram conosco desse importante momento de nossas artes e nossas vidas. Contem conosco! Obrigado também ao pessoal do Centro de Estudos e Pesquisas Afro Alagoano Quilombo, do qual também faço parte, que além de serem lindos, ativíssimos e legais, nos apóiam totalmente em nossas mungangas, mesmo que ainda a gente não tenha pago nossa contribuição.
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