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A Casa de Bernarda Alba
O Grupo Harém de Teatro desempenhou em seu histórico da prática dramática uma representação da cultura local e nacional sempre exercitando o princípio de convergência de linguagens, signos e dramaturgias de reinvenção do teatro brasileiro.
Nos últimos 24 anos de atuação, pôde não só ser responsável pela formação de platéia, como pela valorização do teatro produzido aqui e consumido em outras partes do Brasil e exterior.
Com um desenho dramatúrgico que foi se caracterizando para o viés do tragicômico de montagens, o Grupo foi responsável por sucessos de público e crítica que envolvem autores como Francisco Pereira da Silva ( “Raimunda Borborema ou Os dois amores de Lampião antes de Maria Bonita nunca antes revelados”, “Raimunda Pinto, sim senhor!”, “ O Vaso suspirado”); Gomes Campos ( O Auto do Lampião no Além); Benjamin Santos ( O Princês do Piauí) e Plínio Marcos ( “Harém conta o assassinato do Anão do c... grande” e “Dois perdidos numa noite suja”, este último em parceria com o Grupo Extremo de Teatro, de Portugal).
Texto de autor ibérico, do espanhol Federico Garcia Lorca, “A Casa de Bernarda Alba”, caracteristicamente de viés dramático, foi a escolha que o Harém definiu para, em mantendo uma seguida linha de pesquisa da identidade local e universal, abrir as comemorações de aniversário do Grupo.
“A Casa de Bernarda Alba” compõe a última peça da trilogia de dramas folclóricos(acepção do autor) que traduziríamos como dramas populares espanhóis, ela vem antecedida de “Yerma” e “Bodas de Sangue”. Construída em um período da ditadura franquista, “A Casa de Bernarda Alba”, escrita em 1936, não pôde ser vista em cena pelo autor, que teria sido morto pelos pelotões de soldados do ditador Franco, trinta dias após a conclusão da peça.
Vivendo em um momento de ebulição cultural com interrelações de afinidade estética de criação com Salvador Dali, Magritte, Picasso e Freud, Federico Garcia Lorca também apresenta em suas interpretações de construção dramatúrgica a aproximação da escola surrealista, a manifestação do inconsciente presente no ato criativo dos artistas, cientistas e intelectuais do período europeu.
Como autor social de atos políticos teve reconhecimento pela sua produção e também foi vítima da intolerância dos detratores da liberdade humana. Legou à humanidade uma afiada crítica aos desmandos, à intransigência da natureza humana que ganha força e alegoria de representação na vida das personagens que forja para o mapa do teatro universal.
“A Casa de Bernarda Alba”, para a leitura do diretor Arimatan Martins, retém a genial composição dramática de Garcia Lorca em uma casa só visitada por mulheres após a morte do varão. Cinco filhas, a viúva e duas empregadas vivem emparedadas, remoendo as ambições de se libertarem do jugo dos limites em que estão cerceadas. Enlutadas pelos próximos oito anos dividem fantasias, expectativas e falhas humanas que as obrigam a se amarem e se odiarem simultaneamente.
A falha trágica do enredo dramático é a chegada de um pretendente à mão de uma das filhas de Bernarda. A mais rica, feia e herdeira de um dote do pai morto - um dos maridos da matriarca – será o motivo do acirramento das intrigas, traições e instinto perverso que culminará em tragédia anunciada.
Garcia Lorca soube tão bem expressar esse universo feminino de contexto particular confrontado com os rigores e disciplinas impostos pela política de poder da exceção. Há poder intolerante brigando com as liberdades vigiadas que nem sempre acabam bem quando se insurgem contra as convenções e mandos institucionalizados. A tragédia da vida da arte se repete na vida humana. E há um objeto reparador para a reflexão de quem absorve a mensagem do dramaturgo.
“A Casa de Bernarda Alba”, montagem do Grupo Harém de Teatro, com financiamento do SIEC- Sistema de Incentivo a Cultura do Governo do Estado do Piauí. Temporada de 07 a 30 de Maio( de Sexta -Feira a Domingo) fica, em cartaz, no Teatro Estação (Miguel Rosa com Frei Serafim), sempre às 20 horas.
Direção: Arimatan Martins
Elenco:
Lari Sales (Bernarda)
Airton Martins (Maria Josefa – mãe de Bernarda)
Maneco Nascimento (Angústias – filha)
Tércia Maria (Madalena – filha)
Bid Lima (Amélia – filha)
Fernando Freitas (Martírio – filha)
Janaína Alves (Adela – filha caçula)
Francisco de Castro (La Poncia – criada)
Luciano Brandão (criada)
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