A sincronicidade, a física quântica, a teoria do caos, a teoria M e mais algumas manifestações teóricas da ilimitada mente humana se encontram para dialogar com e através dos corpos e subjetividades destes quatro criadores/intérpretes neste experimento quântico/coreográfico.
Quatro são os elétrons girando em torno do núcleo do átomo de Berílio (Be4), ora onda, ora partícula. Quatro são as subjetividades que corporificam este experimento cinestésico. O núcleo cinesférico do experimento encontra-se em um 5º corpo (virtual) que simboliza o centro individual, o inconsciente coletivo, o lugar de onde todo movimento nasce, a vibração original, o OM.
Se algumas vezes somos ondas e em outras somos partículas, é definido por quem nos observa. A subjetividade do observador irá interferir no experimento. Não fomos, somos ou seremos uma coreografia, mas sim tantas quantas forem as subjetividades que nos observarem. Aqui dialogamos com a relatividade e a teoria M.
A Teoria-M é uma teoria que unifica as cinco diferentes Teorias das cordas. Essa teoria diz que tudo, matéria e campo, é formado por membranas, e que o universo flui através de 11 dimensões. Teríamos então 3 dimensões espaciais (altura, largura, comprimento), 1 temporal (tempo) e 7 dimensões recurvadas, sendo a estas atribuídas outras propriedades, como massa e carga elétrica.
Em nosso experimento, isso cria a possibilidade para que quatro corpos possam explorar e dialogar com a multimensionalidade através do movimento. A cada momento, estes saltos quânticos entre uma realidade e outra, entre um estado de ser e outro, se fazem manifestar através de nossos movimentos micro e macroscópicos. Estes criam sentido apenas quando colocados em um contexto, contexto este estabelecido pelo universo interno e particular de cada um que interage sensorialmente conosco. Para cada observador existe uma realidade completamente diferente e única baseada no seu conjunto de signos e significados, isto cria várias realidades tornando o experimento ao mesmo tempo individual, múltiplo e coletivo.
Tentamos também criar um diálogo entre a sincronicidade jungiana e a teoria do caos. Se um evento particular em algum lugar do espaço/tempo pode interferir no todo modificando as variáveis e assim os resultados, o que acontece quando estabelecemos quais variáveis modificar no momento do espetáculo? O mesmo evento inicial teria resultados diferentes? Quais?
No intuito de corporificar este diálogo criamos um evento inicial na forma de célula coreográfica e mudamos algumas variáveis (espaço, peso, relações ósseas, fluxo, volume, intenção etc.) no decorrer do processo, sempre conduzidos pela pergunta: como este movimento se realiza se mudo uma de suas variáveis, qual o resultado cinestésico para o intérprete/criador e qual o resultado estético/sensorial para o observador. Para intensificar esta sensação de múltiplas realidades a cada apresentação mudamos de direção do espetáculo e as variáveis são modificadas aleatoriamente.
Neste experimento coreográfico decidimos utilizar a forma escrita de expressão como atalho para a criação dos movimentos. São duas as vias de acesso ao poder criativo dos intérpretes, os Haikais, como forma de síntese, de canalização de sentidos por uma via que os estimule a organizar pensamentos e imagens, e a escrita automática, tão utilizada pelos surrealistas e psicanalistas como forma de acesso ao inconsciente e expansão do consciente. Por um lado tentamos a condensação de conceitos e idéias e por outro a expansão destes conceitos através de imagens inconscientes, ambas são traduzidas em movimentos através de improvisações dirigidas. O resultado destas improvisações é codificado em células de movimentos que servem de base para a coreografia.
Este experimento caminha rumo ao desconhecido universo infinito de possibilidades cinestésicas. O corpo material e imaterial dialogando intensamente com sua cinesfera a procura de uma fusão entre espaço interno e externo, entre o eu e o outro, entre o nós e vocês, assim como entre o “estar” e “ser” movimento.
Em março, todas as quartas e quintas as 20h no teatro Marco Camarotti (SESC de Santo Amaro).
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