INTERFACES
Desde o início, pelo título do projeto Interfaces, do coreógrafo caxiense Ney Moraes, tivemos uma vaga idéia de que algo iria se expressar através de várias ferramentas, vocabulários corporais ou outras mídias, principalmente, por se tratar de uma demonstração cênica. Como num disco rígido, a demonstração foi o meio de se comunicar com seus usuários (no caso, nós). A forma como que cada um destes espectadores/usuários recebeu a informação, com uma variada gama de vocabulários foi muito singular, particular.
Interfaces estabeleceu assim uma plataforma para a difusão, formação e produção de diferentes possibilidades de associação do corpo, no corpo e para o corpo. Movimento, imagens, corpos. O caráter híbrido e intersemiótico da proposta do coreógrafo mesclam as fronteiras entre variadas linguagens.
Um conjunto de inúmeras camadas superpostas, nem sempre visíveis a olho nu e que foram se acumulando no decorrer da demonstração (bem como ao longo de nossa existência) fez emergir em mim a noção de palimpsestos corporais. E, talvez a importância maior do processo de pesquisa “Interfaces” resida no fato da inquietação e desconforto causados, em vários momentos, ao público presente (e a mim, principalmente!). As rupturas, a descentralização, o ponto de vista individual e singular e a abertura dos conceitos (tradicionais) oferecem um maior número de possibilidades – ‘não de explicar’, pois explicar implica em interferirmos no fenômeno, introduzindo nele categorias lógicas, como nos explica a fenomenologia -, mas de tentarmos compreender e discutir como se configuram as novas estéticas contemporâneas.

Magda Bellini
Março/2009