Resenha do artigo
Recônditos do mundo feminino/ Recesses of the feminine world
Autoras: Marina Maluf e Maria Lucia Mota

Resumo

Aborda o dever ser das mulheres brasileiras nas três primeiras décadas do século, traçado por um preciso e vigoroso discurso ideológico, que reunia conservadores e diferentes matizes de reformistas e que acabou por desumanizá-las como sujeitos históricos, ao mesmo tempo que cristalizava determinados tipos de comportamento convertendo-os em rígidos papéis sociais. Analisa, também, as mudanças ocorridas no comportamento feminino, que incomodaram conservadores, deixaram perplexos os desavisados e estimularam debates entre os mais progressistas.As autoras Marina Maluf e Maria Lúcia Mott descrevem em seu artigo Recônditos do mundo feminino o comportamento da mulher nas primeiras décadas século XX, enfocando as transformações ocorridas no comportamento feminino, mudanças essas que abalaram a sociedade brasileira vigente da época. Segundo a pesquisa feita por Maluf e Mott, as mulheres dessa época começaram a burlar costumes conservadores da época. Mudanças de hábitos que fomentaram debates entre os progressistas e conservadores sobre o novo comportamento feminino.As autoras citam que um dos novos comportamentos femininos da época era andar sozinhas pelas ruas, coisa que para mulher era uma ousadia, sendo depreciado pelos conservadores do início do século XX. A mulher nessa época segundo as autoras só poderiam sair acompanhadas pelos parentes ou com o seu marido, nunca sozinhas.Segundo Maluf & Mott (1998 p. 401-402), o desenvolvimento industrial e o acesso a melhor escolaridade, a divulgação através da imprensa sobre a maior participação das mulheres no espaço público depois da Primeira Guerra, principalmente nos Estados Unidos e na Europa e o avanço do feminismo reivindicando maiores oportunidades, possibilitaram a abertura de novas profissões para as mulheres brasileiras. No entanto, esse "progresso feminino" necessita ser avaliado cautelosamente, pois eram grandes as dificuldades e empecilhos para o acesso a determinadas profissões. Professora, enfermeira, secretária, telefonista, entre outras, normalmente eram as ofertas disponíveis e, estas caracterizavam-se uma atividade extensiva à realizada em casa. Ademais, as mulheres casadas "precisavam da autorização do marido para exercer qualquer profissão fora do lar – atividade que só era considerada legítima quando necessária para o sustento da família, raramente para realização pessoal".
No âmbito das transformações comportamentais da época ,as cidades estavam também no processo de mudanças ,segundo as autoras Marina Maluf e Maria Lúcia Mott “Diante da variedade de questionamentos ,experiências e linguagens tão novas que as cidades passaram a sintetizar ,intelectuais de ambos os sexos elegerem como legítimos responsáveis pela suposta corrosão da ordem social a quebra de custumes ,as inovações nas rotinas das mulheres,e principalmente ,as modificações nas relações entre homens e mulheres .”Diante a essas transformações sócio-culturais vinda com a modernidade ,o âmbito familiar também sofreu mudanças com o novo comportamento feminino.Segundo Mota e Maluf houve protestos entre os meios de comunicação a exemplo da Revista Feminina em Agosto de 1920 escrevendo o seguinte comentário.
Hoje em dia preocupada em frivolidades mundanas, passeios, chás, tangos e visitas, mulher desertado lar [...]. (pg. 373).
O papel reservado a mulher nessa época era de esposa e mãe e não de um ser humano que tinha seus próprios desejos e anseios. As autoras citam que havia uma desumanizarão da mulher como sujeito histórico.
“O dever ser das mulheres brasileiras nas três primeiras dedadas do século foi, assim, traçado por um preciso e vigoroso discurso ideológico, que reunia conservadores e diferentes matizes de reformistas e que acabou por desumaniza-las como sujeitos históricos ,ao mesmo tempo cristalizava determinados tipos de comportamento convertendo-os em rígidos papéis sociais” (pg. 373). Os papéis que desumanizava a mulher eram defendidos pela igreja e pelo código civil .Maluf e Motta descrevem que o código civil de 1916, declarava a inferioridade da mulher casada ao marido .
Ao homem chefe da sociedade conjugal ,cabia a representação legal da família ,a administração dos bens comuns do casal e dos particulares da esposa secundo o regime matrimonial adotado ,o direito de fixar o local de domicílio da família .A vida da mulher dependia totalmente da decisão dos homens ,pais ,maridos ou juízes.
A partir das pesquisas feitas pelas autoras sobre a condição feminina nos primeiras décadas do século XX, relatando que a lei legitimava ao homem propriação e a distribuição dos recursos materiais e simbólicos da família ,o uso da violência considerada “legítima”.Fazendo da vítima a (agredida) o réu e do culpado (agressor) a vítima perante Código civil .A exemplo do caso citado pelas autoras no ano de 1928 na cidade de São Paulo.O Código Civil de 1916 interpretou o modo como cada um dos cônjuges deveria ser apresentado socialmente .Um conjunto de normas e obrigações sociais.Não havia possibilidades de troca de papéis dos cônjuges .Dona Cora de Magalhães pediu o desquite ,pois alegava ter uma vida de vexames e humilhações vindos de seu marido o senhor Manoel Martins Erichsen.O mesmo solicitou a ren cônjuges reconvenção do processo alegando que a esposa Dona Cora de Magalhães tinha o repudiado seu esposo o senhor Manoel Martins Erichsen .No final desse dilema a Dona Cora de Magalhães foi repelida pelos seus julgadores e seu Manoel Martins Erichsen foi dado como a grande vítima da história conjugal,algo que segundo pesquisas era algo normal para época.
Segundo dados pesquisados pelas autora,havia no início do século XX ,um recurso de violência física a mulher,algo que se dava sob proteção dos costumes da sociedade .A violência se estendia as classes sociais que legitimavam a agressão contra a mulher, a classe superior castigava a classe subalterna ,categoria dada aos excluídos socialmente.A classe pobre da época segundo as autoras ,incorporavam ao costumes da elite .
Mesmo com os costumes pré-estabelecidos pela sociedade burguesa, ocorria sucintamente mudanças de comportamentos de homens e mulheres ,principalmente no
período da urbanização das cidades brasileiras.Mudanças essas de comportamento vindos com o período da urbanização e industrialização são citadas por Maria Barbosa de Araújo: “Acreditar que no caso do Rio de Janeiro prevalecia uma dupla moral,responsável pelas rupturas de equilíbrio e pelas explorações de conflitos dentro di lar ,muito presentes no período [...] segundo ,um sistema rígido de valores que exigia coerência de comportamento ,tanto na esfera doméstica quanto fora dela ,algo bastante difícil num período de urbanização e industrialização crescentes ,quais convocavam os indivíduos e a família para novas formas de associação e lazer,ao mesmo tempo que ofereciam outras oportunidades,ainda que desiguais,de trabalho.”(pg.385)
A dissolução dos costumes deixou temerosos os tradicionalistas que utilizavam os variados discursos sobre a família e o casal dentre os defensores dos velhos costumes estavam alguns literários, religiosos, médicos e jurídicos. Esses indivíduos decretavam o seguinte segundo o texto. “A partir de meados do século passado, que era no lar, no seio da família, que se estabeleciam as relações sexuais desejadas e legítimas, classificadas como decentes e higiênicas” (pg. 387).Esse decreto faz-se pensar na domesticação que esses indivíduos moralistas pregavam contra o desejo sexual entre homens e mulheres dessa época ,ainda muito difundido nos tempos de contemporaneidade. Escovar os dentes, jogar a caneta fora quando a tinta acaba, ir ao cinema, lavar a própria louça ou remunerar uma empregada doméstica para fazer isso, tomar refrigerante gelado, jogar futebol, acender o cigarro da namorada... a coleção história da vida privada no brasil chega ao século xx. As amplas transformações tecnológicas do final do século xix, o declínio do império, a emancipação dos escravos, o advento do regime republicano, a chegada dos grandes contingentes de imigrantes vindos de todas as partes do mundo, as migrações internas, o adensamento populacional nas cidades: nunca antes houve tantas mudanças em tão pouco tempo. os sete capítulos de república: da belle époque à era do rádio, terceiro volume da coleção história da vida privada no brasil, focalizam as novas práticas e hábitos de consumo surgidos em meio a essas mudanças.Trouxeram mudanças para a vida feminina no início do século XX.Bem traduzidos pelas autoras do artigo.Estudar o feminino pela visão das autoras foi precebodo que não implica em vitimizar ou heroicizar os sujeitos pois, as mulheres são atrizes de sua história, não isoladas dos acontecimentos, nem silenciosas do cotidiano. O texto apresenta a importância sabermos sobre o passado da mulher no Brasil.
A conclusão desse artigo apresenta ,o homem e mulher como construções sociais e implica discutir como as diferenças sexuais serviram de base para a constituição de um discurso demasiadamente diferenciado dos sexos e não mais sustentar o argumento que a diferença sexual é a diferença principal e determinadora de papéis ditos masculinos e femininos.Mas sim o seu real papel como cidadão na cultura Brasileira .

A referência bibliográfica da obra

Sevcenko, Nicolau. República: da belle époque à era do rádio. Säo Paulo, Companhia das Letras, 1998. p.367-421, ilus.

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