A teoria autopoiética na Ciranda ACC DANA 59.


Por Cátia Assunção1


No dia 9 de Setembro foi desenvolvida no Acessibilidade em Trânsito Poético ACC DANA59, a Ciranda Po(i)ética.A referente atividade, recorreu metaforicamente a organização autopoiética, desenvolvidas pelos cientistas chilenos Muturana e Varela2.

“Os seres humano se caracterizam por literalmente, produzirem-se continuamente a si mesmos – o que indicamos ao chamarmos a organização que os define de organização autopoiética”. (MATURANA e VARELA, 1995, p. 84)

Segundo estudos, o conceito de autopoiese enfatiza o fato de os seres vivos serem unidades autônomas, e é a autopoiese que os caracteriza como tais. Tomar consciência dos seres vivos como unidades autônomas “se torna explícita quando indicamos que aquilo que os define como unidade é sua organização autopoiética”. (Ibid. p.88)


A educadora Yara Busch3 cita que, se pode dizer que os sistemas vivos são entidades autônomas, apesar de dependerem de um meio para sua existência e intercâmbios de material, sendo que todos os fenômenos relacionados a eles dependem da forma pela qual sua autonomia é realizada. Sabemos também que essa autonomia é resultado de sua organização como sistema de auto-produção, uma contínua auto-produção. São esses sistemas que Maturana e Varela chamam sistemas autopoiéticos, e sua organização, de organização autopoiética.

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1 Profª e Pesquisadora de Dança formada pela UFBA, fez Iniciação Científica pela CNPQ.Participa do Grupo de Pesquisa Poética da Diferença e bolsista ACC da Proext 2011.


2 Humberto Maturana e Francisco Varela são biólogos chilenos que desenvolveram teoria Autopoiética.

3Yara Busch, é formada em Matemática pela Faculdade de Santa Catarina. Mestranda em educação no Centro Universitária Nove de Julho.




Quando se deram na terra condições suficientes para a formação de moléculas orgânicas, surgiram também condições para a formação de unidades autopoiéticas; então a formação de sistemas autopoiéticos ocorreu de modo inevitável.

Conforme Maturana e Varela, seria este o momento para a origem da vida(...) uma vez dadas as condições para a origem dos sistemas vivos, estes se organizaram muitas vezes – ou seja, muitas unidades autopoiéticas, com muitas variantes estruturais, surgiram em muitos lugares na terra, ao longo de talvez muitos milhões de anos. (Ibid. p.91)

Autopoiese e Dança Educação

Recorrendo a Busch ,tendo visto o conceito de autopoiese, cabe agora explicitar os reflexos desta importante teoria biológica para a educação. Trata-se de operar uma transposição interdisciplinar da biologia para a Dança educação.

E é uma transposição metafórica porque a autopoiese biológica acontece no plano celular e metacelular, ao passo que a educação se dá no plano social, no qual a autoprodução se faz mediante interações abertas, que não têm caráter fechado (que Maturana chama de “clausura operacional”), que é próprio da autopoiese biológica.

A autora ainda cita que,o educador e educando devem ser vistos como seres autopoiéticos no ato de educar. O alcance da metáfora biológica aplicada à educação consiste em considerar o educador e o educando como sujeitos ativos que se auto-produzem e se reproduzem na ação educacional. Sujeitos que se auto-constroem. Isto significa que ocorre superar o mecanicismo que encara os sujeitos da educação como autômatos, meros receptores de noções, definições; ocorre superar o professor e o aluno como meros memorizadores. Podemos ver uma caracterização do professor e do aluno autopoiéticos em um texto de Paulo Freire4 em sua obra: A Educação como prática da Liberdade . (FREIRE, 1981).









4 Paulo Freire foi grande educador brasileiro reconhecido no mundo inteiro por sua teoria sobre educação com autonomia.






Para Busch, primeira marca é a pluralidade nas relações com o mundo “na medida em que responde à ampla variedade dos seus desafios…no jogo constante de respostas, altera-se no próprio ato de responder. Organiza-se. Escolhe-se a melhor resposta. Testa-se. Age”. (Ibid. p. 40-41).Outra característica é a criticidade, pela qual captam-se os dados objetivos da realidade, os laços que prendem um dado a outro, um ponto a outro, o que constitui uma atitude “reflexiva e não apenas reflexa”. (Ibid. p. 40). Por exercer esta temporalidade, educador e educando assumem uma atitude “conseqüente”, deixam a mera “passividade” e passam a ser “interferidores” no processo educacional. Já não são simples espectadores. “Herdando a experiência adquirida, criando e recriando, integrando-se às condições de um contexto, respondendo a seus desafios, objetivando-se a si próprios, discernindo, transcendendo” (Ibid, p. 41), educador e educando lançam-se no domínio da História e da Cultura.A ação autopoiética é fundamental na educação.

Diz Edgar Morin 5 “O conhecimento não é um espelho das coisas ou do mundo externo. Todas as percepções são ao mesmo tempo traduções e reconstruções cerebrais com base em estímulos ou sinais captados e codificados pelos sentidos.” (MORIN, 2000, p.20).



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Edgar Morin5 é pesquisador emérito do CNSR, nasceu em Paris em 1921. Formado em História, Geografia e Direito, migrou para a Filosofia, a. Sociologia.


Metodologia


Para a Ciranda autop(i)ética, foi utilizado como objeto poético, bolas de assoprar para representar metaforicamente, a organização autopo(i)étia,as bolas foram postas no quadrado desenhado no chão da sala .Se faz necessário informar que a idéia original da Ciranda não contava com o uso das bolas,as bolas estavam na cena apenas para compor a celebração da volta da Coordenadora Fátima Daltro6 de seu Pós Doutorado na Espanha e a comemoração do desaniversário de Paulinho dançarino mirim e filho do dançarinos Joilson e Ana Paula. Mas como o assunto científico era a teoria da autopo(i)ética e a dança , então as bolas contribuíram para a composição cênica e criativa da Ciranda,representando as moléculas da autopoiese(microquímicas do poder).


Com as bolas compondo a cena, os participantes começaram apenas olhando e construindo mentalmente,as possibilidades criativas para a Ciranda.Alguns dos participantes desenvolveram fotos dança, com as bolas,configurando cenas muito interessantes.Cada movimento modificava o ambiente(corpo ambiente)enquanto as bolas continuaram dentro do quadrado.De vez enquanto as bolas saiam do quadrado e o participante Jaguar, as colocava dentro do quadrado(Jaguar possui muita atenção,percepção das mudanças do ambiente).Aos poucos, outros participantes chegavam para a Ciranda, e as bolas continuavam dentro do quadrado.


O dançarino Rubem observou, as bolas no quadrado e após um tempo,o mesmo começou a brincar com as bolas(modificando totalmente o ambiente).Com as bolas em movimento, deu início, a construção autopo(i)ética do ambiente cênico. Os movimentos de Rubem lembravam os movimentos dinâmicos do jogo de futebol.Após a autonomia de Rubem ao modificar a cena,outros participantes começaram a fazer o mesmo,retirando as bolas do quadrado, compondo a autopoiese coletiva "Há uma circularidade essencial na natureza dos sistemas vivos”.(IBID).



6 Fátima Daltro é professora da Escola de Dança da UFBA,atualmente desenvolve sua Pós Graduação na Universidade de Barcelona .





Enquanto as bolas poetizavam a sala,subindo e descendo,percebeu-se que os participantes dialogaram performaticamente com elas, possibilitando, a interação do corpo com as bolas, desenvolvendo a organização pó(i)ética performática.Diante a performances dos participantes, percebeu-se que, o dançarino Jaguar cada vez mais desenvolve sua percepção e atenção na composição coreográfica compondo a auto(i)ética com movimentos dinâmicos,expansivos.


No transcorrer poético da Ciranda, Correia indicou que os participantes dançassem com a bola sem deixá-la cair ao chão. O referente exercício possibilitou a atenção,percepção,instabilidade e estabilidade do corpo dando continuidade aos trabalhos das Cirandas anteriores. Foi muito poético, cada dançarino com sua bola, dançando na sala levados pela leveza das bolas de assoprar.Em busca da Terra do nunca(mundo imagético).


No seguimento da Ciranda, Correia pediu que cada participante pusesse, a bola dentro da roupa,o exercício foi muito interessante,pois foi necessário que os corpos se reorganizem e se estendessem na cena(grandes barrigas,seios,nádegas).Cada participante criou seu personagem,ocorrendo trabalhos em duos,trios,quartetos até o grupão(trenzinho).




Conclusão


Conclui-se que Ciranda autopo(i)ética desenvolvida por Fátima Daltro Correia junto os demais participantes do ACC DANA 59/Grupo de Pesquisa Poética da Diferença, propiciou o diálogo multidisciplinar entre Dança,Biologia,Educação,diálogo necessário, sendo o corpo objeto de estudo na investigação e elaboração de conhecimentos em Dança, particularmente em estudos sobre, “As eficiências da dança no corpo da pessoa com deficiência”(Correia)

No que se refere à autopoética em dança,observou-se que os participantes desenvolveram suas estratégias de criação com autonomia e lógica, diante a necessidade de planejar, estratégias para a organização do corpo na cena.Outro fator importante é a produção artística dos dançarinos com deficiência,reforçando a idéia que é possível desenvolver produção de conhecimento em Dança tendo a participação autoral desses dançarinos.A partir dessa conclusão devemos recorrer a mensagem que Maturana deixa aos educadores: “Como vivermos é como educaremos e conservaremos no viver o mundo que vivermos como educandos”. (Ibid. p.30).A partir das reflexão de Maturana sobre educação deve-se recorrer a Correia quando cita ”A dança precisa consolidar o discurso de sua valorização enquanto corpo capaz de poetizar, entendendo-o dentro da perspectiva co-evolutiva entre o corpo biológico e o cultural.” ( Correia,2006).





Referencia




CORREIA, Fátima, Corpo Sitiado...A comunicação Invisivel.Dança,Rodas e Poéticas.São Paulo,2007.


FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.

Maturana, Humberto R. e Varela, Francisco J. A ÁRVORE DO CONHECIMENTO As bases biológicas da compreensão humana .Editoria Palas Athena,SP.2005


MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. São Paulo: Ed. Cortez, 2000.

Yara Busch A organização dos seres vivos e a autopoiese

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