Este ano, a proposta de curadoria para o Panorama SESI de Dança tem como foco o percurso de criação. Para tanto, ela foi pensada em rede, com os próprios criadores e com a produtora Gabi Gonçalves.

Escolhemos artistas (Lia Rodrigues, Marcela Levi, Denise Stutz, Marcelo Evelin e o Núcleo do Dirceu, Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira, Eduardo Fukushima, Vera Sala, Alejandro Ahmed e Cláudia Müller) que têm demonstrado um percurso inquieto de pesquisa. Para nós, o que mais interessa neste momento são as perguntas, a mobilidade que as obras acionam. Assim, não nos pareceu importante restringir o critério de seleção a estreias ou mesmo aos últimos espetáculos de cada artista. Também não pensamos na apresentação de “repertórios”. Optamos por selecionar as experiências em que a pesquisa de cada um construiu enquanto chave importante para a obra como um todo. Neste sentido, destacam-se algumas famílias de pensamento.

Na primeira semana, vindas do Rio de Janeiro, Marcela Levi e Denise Stutz compartilham a noite com Lia Rodrigues, com quem dançaram durante muitos anos, e depois apresentam seus próprios trabalhos. Lia exibirá o filme “Carte Blanche à Lia Rodrigues” (Carta Branca à Lia Rodrigues) produzido pela Cinemateca da Dança em Paris, em 2008. Em seguida, direto do Piauí, Marcelo Evelin dança o solo “Ai ai ai” que criou há 15 anos e foi fundamental em seu percurso, seguido por um trio nada convencional do qual participam, a seu lado, os dançarinos-criadores Jacob Alves e Cipó Alvarenga, do Núcleo do Dirceu de Teresina.

Na segunda semana, Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira demonstram dois momentos de suas pesquisas que, entre Recife e São Paulo, reinventaram algumas danças populares brasileiras a partir de alianças inusitadas com o balé clássico. Eduardo Fukushima – que divide a noite com Ângelo – revela uma ponte secreta (e inesperada) entre esta dupla de criadores e a coreógrafa Vera Sala, uma vez que transitou pelas aulas de todos eles, encontrando uma fala muito particular em seu próprio corpo. Alguns desses caminhos podem ser identificados para quem assistir aos dois solos de Vera que marcaram a cena paulistana nos últimos dez anos – tendo sido fundamentais para a construção de uma espécie de “dramaturgia da precariedade”, cujo ponto de partida foi a escrita sensível de Clarice Lispector. Para completar a programação, Alejandro Ahmed, de Santa Catarina, realiza duas demonstrações (Guia de Ideias Correlatas) que, ao retomar algumas de suas obras mais importantes, compartilha com o público o seu percurso de criação aliando corpo, tecnologia (robótica e vídeo-game) e estudos do movimento. Fechando a semana, Cláudia Müller do Rio de Janeiro, apresenta o vídeo-dança “Fora de Campo” e estreia “Exhibition” – uma obra polêmica que, não sem motivos, foi escolhida para encerrar o Festival. “Exhibition” apresenta as circunstâncias que giram em torno da dança contemporânea expondo, de maneira bem-humorada, um certo cinismo, o vazio e o risco sempre iminente da (in)comunicação com o outro.

Nos sábados, dias 7 e 14 de agosto, a partir das 12h, haverão conversas entre os criadores, transmitidas ao vivo pela internet. As perguntas poderão ser feitas em tempo real pelo twitter.

Christine Greiner