GUERREIRO PADRE CÍCERO : UMA EPISTEMOLOGIA LOCAL

 

O que emerge deste objeto em estudo? Observar o processo como as representações culturais ocorrem, longe da câmeras de tv, aquele lugar onde a mídia não alcança. Desta forma, tentamos
alcançar o corpo Brincante, mais propriamente o corpo do brincante na dança do
Guerreiro alagoano, e lá encontramos o mestre Venâncio e seu Guerreiro Padre
Cícero. O ponto fundamental de nosso questionamento, o conhecimento que se
produz e se traduz  em cada corpo
brincante, dentro do barracão por meio da brincadeira como ele acontece? Que
dinâmicas corporais são utilizadas? Como são aprendidas e passadas estas
dinâmicas?Perceber o corpo  físico no
ritual da brincadeira, o conhecimento empírico que envolve a tradição ancestral
da herança do fazer-se ou tornar-se brincante. Dona Noêmia interpreta a rainha
possui 76 anos, seu pai e sua mãe foram rei e rainha do Guerreiro, dança desde
pequena. Dona Maura hoje é mestra de Baianas e possui uma banda de pífanos,
antigamente possuía um grupo de Guerreiro, mas, devido as despesas e falta de
apoio vendeu a sanfona, coisa que até hoje se arrepende, pois, nunca mais pode
adquirir outra, atualmente brinca o Guerreiro com o mestre Venâncio. O mestre
Venâncio possui o seu Guerreiro há 32 anos e costuma dizer sempre “ Este
Guerreiro está provado”, aprendeu com o pai que era cantador de Pagode,
aprendendo então a tocar viola, da viola passou para o pandeiro, tornando-se
também um grande mestre do Côco Alagoano.Diz com orgulho que: quando morrer
deixará a cultura de Alagoas plantada
, pois seus filhos, participam da
brincadeira, o mais velho toca o zabumba, o filho que possui 10 anos é o
Mateus,  e a mais nova com 06 anos é
figurante Durante seus ensaios o Mestre sempre espera as pessoas chegarem,  as mesmas chegam aos poucos, aos poucos todos
se misturam e as crianças são as que melhor se integram e brincam
descompromissadamente, saem e entram a hora que querem, lembrando um pouco
aquela lição da Pedagogia indígena, onde as crianças são respeitadas e
interagem com os mais velhos sem obrigatoriedade  e neste vai e vem, no fluxo do brincar
acontece o aprendizado das danças e das músicas.

Não há uma preocupação em corrigir os passos, pois cada um adquire e adapta seu sapatear a dinâmica incorporada.Quem chega atrasado vai entrando e esta espontaneidade no fluxo das
pessoas  também se constitui como forma
de aprendizado, o importante é chegar e brincar e brincando se vive e se
aprende. É a brincadeira, segundo o depoimento da maioria dos mestres é o que os
mantém vivos. 

A brincadeira do Guerreiro nasce híbrido, constitui-se híbrido e permanece híbrido. Como separar o que se coisifica? Nesta mistura há: O ìndio Peri, Toré, Caboclinhos, Pastoril,O bumba
meu boi e Reisados, mestre, embaixador, rainha e outras presenças, tornando a
brincadeira uma construção semântica do corpo, que inclui a presença do
sapateado e uma utilização sincopada por meio do pisar no chão.

Há uma discussão antiga sobre  cultura popular versus cultura erudita, no entanto, podemos ter a Arte como ponto essencial de vivência,
pensar em Arte como patrimônio cultural de um povo, artisticamente  produzida torna-se produto cultural.

O Guerreiro se constitui como uma belíssima ópera, que não se apresenta por completa, pois sua apresentação na “íntegra” contava de 03 a 07 horas, exatamente pela falta de apoio para os
custos, assim, como, uma pseudo inserção dos mestres num mercado cultural,
pois, para apresentar-se por contrato, são obrigados a diminuir ou excluir
algumas partes, entre elas, está uma das mais importantes, a parte do índio
Peri, que dura por volta de uma hora ou mais, e está desaparecida do
repertório.

Sentimos o peso da gestão pública, na promoção das políticas culturais que resignifiquem nossas construções históricas, destacando suas tradições criando organicidade, assim
como, canais efetivos de interação e integração, pensar no processo de
construção do conhecimento e do produto ou resultado que se obtém disto, não se
preocupando apenas com  a cultura
enquanto entretenimento, porém como meio de construção do sujeito, onde este
conhecimento produzido dentro da brincadeira é o seu maior bem. 

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